Ippolito: "O que mais dói é ficar fora da Copa América"
Entrevista com a camisa 10 da Argentina, que sofreu uma ruptura de ligamentos e não poderá jogar no Equador.

- É uma das figuras da equipe de Germán Portanova e jogaria o torneio pela segunda vez.
- Neste ano, passou a atuar pelo Grasshopper Club Zürich, da Suíça.
Ela veste a camisa 10 da Argentina e estava empolgada com a chance de fazer uma grande CONMEBOL Copa América Feminina 2025™. Dalila Ippolito, de 23 anos e quase dez temporadas como profissional, jogou no último amistoso da Albiceleste — uma partida histórica, na qual a Argentina venceu o Canadá e ganhava impulso para o torneio continental no Equador. Menos de uma semana depois, rompeu os ligamentos.
–Como você está lidando com esse baque?
–É muito difícil. Chorei muito, chorei o que precisava. A gente tem que deixar as emoções saírem, tanto nos bons momentos quanto nos ruins. Estou levando como dá, aprendendo. É um processo muito longo. Estou me apoiando na família, nas pessoas ao meu redor, o clube está sendo nota 10.
–Como foi a chegada ao Grasshopper?
–Estava buscando clubes, mas estava difícil porque não tenho cidadania europeia. Já tinha outras propostas, mas estava indecisa. Então me mandaram mensagem no Instagram e foi estranho, porque o perfil não tinha foto e quase nenhum seguidor. A mensagem era: “Sou assistente do diretor esportivo, estamos muito interessados em você. Queremos que venha já.” Faltavam três dias para o fim da janela. Era tudo muito justo: “Queremos que venha amanhã.” Eu estava na Bélgica, na casa da minha parceira. Existem muitos perfis falsos no Instagram, então desconfiei e demorei um dia para responder. Minha parceira insistiu para eu responder. Conversamos, fizemos uma videochamada à noite. As condições eram incríveis, tudo perfeito. Se não fosse por ela, eu teria ignorado a mensagem.
Ippolito, que vinha de atuar na liga italiana (Juventus, Pomigliano e Parma), define a liga suíça: “É diferente. Muito física, tem muito contato. Na Itália é mais técnica. Está crescendo, tem potencial. É muito competitiva.” Com o Grasshopper, ela pode ser campeã em sua temporada de estreia, já que o time disputará a final contra o Young Boys: “O feminino do Grasshopper nunca foi campeão. Seria histórico. Nunca imaginei estar nessa situação no meu primeiro ano. Muitas emoções ao mesmo tempo, é uma pena o que estou passando porque eu sou a primeira que queria estar em campo.”
–Você escreveu no Instagram sobre a dor de perder coisas com a seleção, principalmente a Copa América.
–É o que mais me dói. Estava muito perto de viver esse sonho. Seria minha segunda Copa América se tudo desse certo e eu fosse convocada. Dói na alma. Só de falar já dá um nó na garganta. Era um momento muito esperado. Estávamos numa ótima preparação, vindo de grandes Datas FIFA, fazendo coisas incríveis. O grupo mudou: algumas saíram, muitas jovens chegaram com muita vontade, e tudo subiu de nível. Vencemos o Canadá e seis dias depois isso acontece. As meninas me mandaram mensagem: “Não acredito.” De estar comemorando aquela vitória, volto pra cá e acontece isso. Vai ser difícil digerir tudo, dói. A seleção ainda significa muito pra mim, e estar tão perto assim machuca mais. Vou torcer demais por elas na Copa América e desejar o melhor.
–Você mencionou o jogo com o Canadá, que foi histórico para a Argentina. Foi um marco?
–Foi mais do que isso. A gente acreditava antes do jogo. Perdemos o primeiro, mas sentimos que podíamos vencer. Muitas jovens chegaram para somar e buscar seu lugar. Na seleção não tem vaga cativa, joga quem está melhor. Isso faz a seleção crescer. Foi uma vitória histórica, pela forma como aconteceu, pelos dias anteriores, pelo ambiente. É um grupo maravilhoso, todo mundo puxa para o mesmo lado.
O clube Jovens Deportistas, onde Dalila jogou futsal com meninos até os 12 anos, decidiu nomear seu estádio principal em homenagem à camisa 10 da Argentina. Quanto o futebol feminino mudou na última década? “A mudança é enorme. Estádios cheios em todos os países falam por si só. ‘Futebol feminino não dá retorno’: isso acabou. Existem jogadoras muito boas, muito talentosas, que fazem o público se divertir”, diz a atleta de 23 anos.
–Na Colômbia 2022 ficaram em terceiro. O que seria uma boa Copa América para a Argentina este ano?
–O objetivo é chegar à final e se classificar para os Jogos Olímpicos. Sabemos que essa Copa América não classifica mais para a Copa do Mundo. O sonho é chegar à final e vencê-la. Esse grupo é muito especial, já mostrou isso. Queremos competir com todos: Brasil, Colômbia, Paraguai.